terça-feira, 22 de julho de 2008

Sócrates na Praça Deodoro

Caros amigos e amigas de nosso blog,
há mais ou menos quatro anos escrevi um texto para minhas aulas sobre o papel da filosofia no mundo, tendo como ponto de referência a figura de Sócrates; a idéia na época foi a de problematizar o pensamento socrático tendo como cenário a Praça Deodoro, em São Luís, e a minha inquietação era, entre outras coisas, saber o que Sócrates nos diria, ao ver este cenário contemporâneo?... Seria fantástico viajar no tempo, e tê-lo conosco para um diálogo daqueles, que podemos ler nas obras de seu mais ilustre discípulo (Platão). Daí, partindo dessa situação hipotética, lancei o mesmo desafio aos alunos, e até hoje continuo lançando...
Este texto é bem recente, da Anne Rabelo, nossa colega amiga da turma fantástica 204, de Design de Produto; o título, como podem observar, foi mantido por ela.
Abraços em todos! E obrigado, Anne pelo belo texto!!!
Até breve!
Jorge Leão


SÓCRATES NA PRAÇA DEODORO

Mais um daqueles dias, em que estava atrasada para chegar ao trabalho no horário, tentava correr entre aquela multidão que passava assim como eu, atrasada, na Praça Deodoro. Então, sem um porquê lógico a princípio, eu parei subitamente em meio àquelas pessoas, e me perguntei:

- Por que correr daquele jeito? Por que passar correndo em lugares que merecem muito mais serem admirados do que pisados na correria do dia-a-dia?

Sentei-me em um banco e esquecendo-me do horário, do atraso e de tudo mais que pudesse tirar minha concentração, tentava achar respostas para as perguntas tão confusas ao meu pensamento. Lembrei-me de um certo filósofo grego que ouvi falar durante toda a minha vida, mas que descobri quem realmente era e o que fazia, quando cursei a 5ª série, chamava-se Sócrates, era um gênio e apesar de toda sua inteligência e astúcia para desenvolver teorias até hoje aceitas por muitos, não se considerava com tal estima.

Imaginei o que Sócrates pensaria dessa nova utilização da praça, levando em consideração que a praça em sua época, quer dizer a “àgora”, era um local de encontro para discutirem sobre problemas da sociedade, se relacionarem com os outros... Enquanto hoje para maioria da sociedade é apenas um local de passagem.

Foi então que ao meu lado sentou-se um senhor estranho, vestido com roupas estranhas e ele começou a conversar comigo:

- Por que todos passam apressados por esta “àgora”, não param para conversar, admirar o local?
Perguntei a ele:

- O senhor sabe onde estamos?

- Sim eu sei, em uma “àgora”, em Atenas, mas não estou entendendo o estranho comportamento e vestimenta de todos.

- Senhor, estamos em uma Praça em São Luís- MA, no Brasil.

- Mas, como pode, eu estava em Atenas e agora estou aqui neste tal de Brasil?!

- Meu Deus, mas que coisa estranha. Como você se chama?

- Sócrates.

- Eu é que pergunto como pode, estamos no ano de 2008 e você, que se diz Sócrates, que viveu de 470 a 399 a.C., isso é muita loucura devo estar cansada ou delirando.

- Não, eu estou aqui, apesar de tudo ser muito confuso, mas para tudo há uma resposta. Então me fale sobre você e sua época.

Sócrates e eu conversamos durante horas e ele me perguntou por que as pessoas passavam umas pelas outras e não se cumprimentavam ou paravam para conversar ou pelo menos andar mais devagar para admirar o que havia de bonito ali naquele lugar. E eu respondi que as pessoas desta época vivem sem tempo para quase tudo, até para viver a vida como se deve, vivem aqui apenas para ganharem dinheiro e sobreviver, ou seja, vivem por viver.

E quando terminei de lhe responder, ele começou a sumir e cordialmente despediu-se de mim. Olhei para os lados e não mais o vi, o sol já estava desaparecendo no horizonte e eu ali sentada em um banco da Praça Deodoro desde a manhã, sem muitas perguntas para eu mesma, fui para casa, sabendo que amanhã voltaria tudo ao normal.

ANNE RABELO
DESIGN DE PRODUTO - TURMA 204 / julho de 2008

2 comentários:

filosofia com arte disse...

Muito obrigado, Anne, pela valiosa contribuição, saiba que você muito edifica nossas aulas e também o debate filosófico na turma 204, que é muito valiosa para mim. Continue escrevendo textos interessantes como esse! Valeu! Abraços quixotescos! Jorge Leão

Talita Guimarães disse...

Parabéns pelo texto, Anne!
Incrível como essa reflexão pode surgir no dia-a-dia com a capacidade de fazer a gente parar e se perguntar "peraí, mas será que é assim mesmo que deve ser?".
Que bom seria se Sócrates pudesse aparecer por um dia, ou alguns instantes, na vida para ensinar a tantas pessoas o quanto é preciso pensar filosofia e conhecer-se antes de tudo.
Gostei muito do seu texto. Continue assim, pensando filosofia.