quinta-feira, 24 de julho de 2008

Comentário sobre o filme "O Grande Ditador", de Charles Chaplin

Olá, caros amantes da Filosofia e da Arte. Apresento aqui uma reflexão sobre um filme especial, "O Grande Ditador" (1940), do Chaplin, e algumas propostas de atividades nas aulas de filosofia, sobre ética e política. Então, vejamos uma cena marcante do filme e algumas análises mais gerais sobre o mesmo.
Bem, como é sabido por muita gente, esta é uma cena que entrou para a história do cinema, quando o genial Charles Chaplin constrói uma sátira sobre o nazi-facismo, que dominava a Europa, desde meados da década de 1930. É importante o registro de que o filme foi lançado em 15 de outubro de 1940 e foi o primeiro filme falado de Chaplin.

O ator inglês representa dois personagens, o barbeiro judeu, que no início combate na 1ª Grande Guerra, como cadete da nação "Tomânia", tentando salvar um soldado chamado Schultz, que mais tarde se torna oficial do exército do imperador Hynkel (a crítica aqui é direcionada a Hitler), e que constitui o outro personagem de Chaplin.

Obcecado pelo poder, Hynkel quer dominar o globo, espalhando seu desejo de domínio a todos os povos. Ele se julga controlador do destino das nações, daí a idéia de segurar o mundo com as mãos, como se vê na cena. Aqui, podemos refletir sobre o totalitarismo na política, e citar a filósofa judia Hannah Arendt (1906 - 1975), que pode mediar esse interessante debate com a turma. Como se vê no pensamento da filósofa, a importância da ação política e a valorização do espaço público são dois elementos que se contrapõem às experiências totalitárias, e que podem servir aqui de contraponto para esta cena do filme, pois na Alemanha dos anos 30, "havia a impossibilidade de viver a Política, e o cidadão estava privado do diálogo com seus pares" (Revista: Discutindo Filosofia, Ano 2, n.7, pp.34-35).

Um outro momento interessante para o trabalho em sala de aula, é fazer a análise dos dois discursos, o inicial, que comicamente ilustra a insanidade do "Ditador", e toda a descarga de preconceito e totalitarismo que o alimenta, e, no segundo, na cena final do filme, em que o barbeiro judeu é obrigado a falar, pois é confundido com o próprio Hynkel. Neste emblemático discurso, que vai sendo construído numa escalada emocional crescente por parte de uma brilhante interpretação de Chaplin, é possível apresentar vários aspectos interessantes, como a influência da doutrina da não-violência, propugnada pelo líder hindu Mahatma Gandhi (1869 - 1948), quando ouvimos da boca do pseudo-imperador: "a terra, que é boa e rica, pode prover a todas as nossas necessidades", além da defesa dos direitos humanos ("o caminho da vida pode ser o da liberdade e da beleza, porém nos extraviamos"), e de uma crítica severa à civilização moderna da técnica e do progresso, fatores que subjugaram o ser humano ao domínio das máquinas ("a máquina, que produz abundância, tem-nos deixado em penúria"). O debate pode também ser complementado pelo professor com tópicos da política e da história do século XX, contexto marcado por duas grandes guerras mundiais, de caráter eminentemente irracional e totalitário, sobretudo na segunda, com a fatídica experiência dos campos de extermínio nazista.
Aqui, é oportuna a participação dos professores de História, Geopolítica e Sociologia, para uma interessante reflexão interdisciplinar com a turma ( alguns temas interessantes podem ser propostos por estes professores, tais como: o contexto histórico das Guerras Mundiais, suas motivações e implicações, a configuração do mapa europeu neste contexto, o envolvimento de nações de outros continentes, o impacto social, político, econômico e cultural das guerras sobre as nações envolvidas e outros).

Outra sugestão é contrapor a estratégia totalitária, fundada na cobiça e no ódio, ao elemento ético do respeito à diversidade e à prática do amor, como contrapropostas a esta infeliz experiência histórica. Se o debate permitir, os alunos poderão relatar experiências históricas que levaram o projeto de uma humandidade justa e feliz ao fracasso, assim como relatos de fatos ou biografias (pode ser um tema de pesquisa para futuras aulas e debates motivado pelo professor) que impulsionaram o ser humano para novos horizontes, novas utopias, como o próprio discurso de Chaplin, ao final do filme. Vale ficar com as últimas palavras do histórico discurso, quando ele evoca o amor a Hannah, mesmo ela ausente:

"Hannah, estás me ouvindo? Onde te encontrares, levanta os olhos! Vês, Hannah? O sol vai rompendo as nuvens que se dispersam! Estamos saindo da treva para a luz! Vamos entrando num mundo novo - um mundo melhor, em que os homens estarão acima da cobiça, do ódio e da brutalidade. Ergue os olhos, Hannah! A alma do homem ganhou asas e afinal começa a voar. Voa para o arco-íris, para a luz da esperança. Ergue os olhos, Hannah! Ergue os olhos!".

Aqui, o professor de filosofia pode finalizar o encontro enfatizando aos alunos uma nova percepção da palavra "esperança", pautada numa ética solidária e universal, movida por uma ação política consciente e transformadora, onde os seres humanos estejam em equilíbrio com os seus semelhantes, com a natureza, consigo próprios e com os seus princípios valorativos...

Até o próximo bate-papo sobre filosofia e cinema, nas conversas de nosso blog...

Abraços quixotescos!
Jorge Leão

Um comentário:

filosofia com arte disse...

Os filmes do Chaplin são sempre marcantes. Sua genialidade é apresentada de modo simples, tocante, profundo, verticalizando sentimentos e idéias, o ator inglês trouxe ao cinema a possibilidade de aliar comédia e drama dentro de mapas conceituais inusitados e de uma beleza plástica singular. Por isso, sempre procuro dar ênfase a atenção que devemos ter às interpretações faciais de seus personagens. Este é um aspecto fulcral nos filmes de Chaplin. Assistam e deliciem-se! Abraços quixotescos! Jorge Leão